Os 10 Maiores Mitos sobre Buy-and-Hold: Desconstruindo o "Compre e Esqueça"
Descubra os 10 mitos perigosos sobre buy-and-hold: desde 'é só comprar e esquecer' até 'ações sempre se recuperam'. Veja dados reais e estratégias para evitar armadilhas.
A estratégia Buy-and-Hold (comprar e manter) é celebrada por ícones como Warren Buffett e estudiosos de finanças como a forma mais eficaz de acumular riqueza no longo prazo. No entanto, sua simplificação excessiva gerou mitos perigosos que podem destruir patrimônio e alimentar expectativas irrealistas. Este artigo desmonta 10 falácias comuns usando dados, exemplos históricos e neurociência comportamental.
Mito 1: "Ações sempre se recuperam no longo prazo"
Realidade: Algumas empresas e mercados levam décadas para recuperar picos anteriores – se conseguirem:
Microsoft (MSFT): Quem comprou no auge de 1999 só recuperou o preço nominal 17 anos depois.
Nikkei 225 (Japão): O índice ainda está 30% abaixo do pico de 1989 – 35 anos de espera.
Coca-Cola (KO): Quem comprou em 1998 levou 16 anos para zerar prejuízos.
Por que persiste o mito? Viés de sobrevivência: focamos nas Amazonas da vida e ignoramos casos como Kodak ou Lehman Brothers (que sumiram do mapa).
Mito 2: "É uma estratégia passiva: compre e esqueça"
Realidade: O verdadeiro Buy-and-Hold exige monitoramento ativo dos fundamentos:
Buffett vendeu posições na IBM e Oracle quando os modelos de negócios se deterioraram.
"Manter" não é inércia: Requer reavaliação trimestral de indicadores como ROE, endividamento e vantagem competitiva.
Dado crucial: 46% das empresas do S&P 500 em 2000 não existiam mais em 2020 – segui-las cegamente seria desastroso.
Mito 3: "Timing de mercado é irrelevante"
Realidade: Comprar em valuations absurdos condena o retorno:
Retorno Total = (Preço Venda / Preço Compra) - 1
Exemplo: Comprar o S&P 500 em 1999 (P/L 44x) gerou retorno real negativo por 13 anos.
Solução: Use média de custo (DCA) ou indicadores como CAPE Ratio para evitar entradas em bolhas.
Mito 4: "Perder os melhores dias do mercado destrói retornos"
Realidade: Estudos do Hepburn Capital e Bank of America provam:
Quem evitou os 10 melhores dias do S&P 500 (1990–2020) teria retorno de 2% ao ano.
Mas se evitasse também os 10 piores dias, o retorno saltaria para 27,213% (vs 17,715% do buy-and-hold).
Conclusão: Os melhores/piores dias ocorrem em clusters durante crises – sair na turbulência evita ambos.
Mito 5: "Economiza impostos e taxas automaticamente"
Realidade comparada:
Estratégia | Vantagem Fiscal | Risco Oculto |
Buy-and-Hold | IR menor (15% após 1 ano) | "Efeito âncora": não vende mesmo com fundamentos deteriorados |
Trading Ativo | Perdas reduzem base de IR | Taxas de corretagem acumuladas |
Atenção: Ficar "preso" a ações em queda para evitar IR gera custo de oportunidade – às vezes é melhor pagar o imposto e realocar.
Mito 6: "Funciona igual para todos os perfis psicológicos"
Neurociência explica:
Viés da negatividade: Perdas pesam 2x mais que ganhos – em bear markets, 90% dos investidores vendem no fundo por pânico.
Disparidade emocional: Segurar Bitcoin em -80% (como em 2018) exige estômago diferente de segurar Weg (WEGE3).
Solução: Conheça seu perfil comportamental antes de adotar a estratégia.
Mito 7: "É universal: funciona em qualquer mercado"
Evidência empírica:
EUA (S&P 500): Retorno real médio de 6,8% ao ano (1928–2023).
Japão (Nikkei): Retorno real negativo por 30 anos.
Brasil (Ibovespa): Quem comprou em 2010 teve retorno real zero em 2024 – mesmo com dividendos.
Conclusão: Mercados emergentes com instabilidade macro exigem hedges cambiais ou exposição global via ETFs como IVVB11.
Mito 8: "10 anos são suficientes para garantir ganhos"
Dados perturbadores:
Estudo com 1.364 ETFs (1993–2015) mostrou: leva 10 anos para ter 95% de chance de lucro.
Problema: A vida média de um ETF é de apenas 6 anos – muitos são liquidados antes.
Tradução: "Longo prazo" pode significar 15+ anos – não combine prazos curtos com buy-and-hold.
Mito 9: "Fundos de gestão ativa sempre perdem para o buy-and-hold"
Nuances importantes:
Em bull markets: 85% dos fundos ativos perdem para índices.
Em crises: Gestores como Prashant Jain ou Peter Lynch bateram o mercado vendendo antes de quedas (ex.: 2008).
Regra prática: Em mercados eficientes (EUA), prefira ETFs; em mercados ineficientes (small caps brasileiras), gestão ativa pode agregar.
Mito 10: "Volatilidade é irrelevante no longo prazo"
Matemática implacável:
Queda de 50% exige 100% de ganho só para voltar ao zero.
Exemplo real: Quem comprou PETR4 em 2008 (alta do pré-sal) ainda não recuperou o á histórico em termos reais (ajustado pela inflação).
Solução híbrida: Use stop mental (ex.: vender se ação cair 30% dos fundamentos) mesmo no buy-and-hold.
Como Praticar Buy-and-Hold com Inteligência
Selecione com critério: ROE > 15%, dívida/EBITDA < 2.5x, vantagem competitiva duradoura (ex.: Weg, Apple).
Diversifique globalmente: 40% EUA (IVVB11), 30% Brasil (ações/FIIs), 20% emergentes, 10% renda fixa global.
Monitore gatilhos de venda:
Queda de market share sustentada.
Endividamento acima do setor.
ROIC < WACC por 4 trimestres.
Rebalanceie anualmente: Venda parcial de ativos supervalorizados e recomponha os subvalorizados.
"Buy-and-hold não é religião – é uma estratégia que exige revisão contínua." – Adaptado de Howard Marks.
Nem Dogma, Nem Descarte – Usar com Sabedoria
O buy-and-hold permanece válido, mas requer upgrades para o mundo pós-2020: maior diversificação global, parâmetros claros de venda e combinação com hedges (ouro, BTC) em portfólios sofisticados. Sua maior virtude – evitar overtrading – não pode virar passividade suicida. Como alertou Lo (2004): "Mercados modernos têm volatilidade que exige versatilidade".